Um século de vida. O desembargador Garibaldi Almeida Wedy lembra de histórias dos 100 anos que está completando nesta terça-feira (22/10), citando ainda de memória as datas mais importantes de sua trajetória. Depois levanta-se para mostrar, em passos miúdos mas ainda rápidos, algumas fotos. Pelo caminho, aponta os quadros pintados pela esposa Haydée (já falecida), que se espalham por todo o apartamento. No escritório, o computador ficou ligado à espera que o magistrado volte para continuar o texto que está elaborando para a festa de seu aniversário. Wedy volta para a sala e conta mais histórias, como se o tempo fosse um amigo generoso, embora irrefreável. “A Magistratura a qual servi era a Magistratura de um tempo que já passou, e cada tempo tem seu caminho”, filosofa para responder sobre o que mudou dos seus tempos de toga para os dias de hoje. Natural de Soledade, Garibaldi Wedy concluiu o curso de Direito em 15 de dezembro de 1939. “Daquela turma da Faculdade de Direito da Universidade de Porto Alegre fazia parte João Belchior Marques Goulart, mais conhecido por Jango”, revela, com orgulho. Do jovem que viria a se tornar presidente da República, o magistrado recorda como um colega afável e cordial. Wedy foi aprovado no primeiro concurso realizado para o Ministério Público, em 1941, assumindo o cargo de promotor público na comarca de Ijuí. Quatro anos depois, em maio de 1945, ingressou na Magistratura como juiz de Direito da comarca de Sobradinho, quando acumulou a jurisdição com o cargo de prefeito municipal até que se realizassem as eleições daquele ano. De lá seguiu para Lajeado, Soledade, São Luiz Gonzaga e Santa Maria, chegando enfim à capital, onde foi juiz da primeira Zona Eleitoral de Porto Alegre, quando na cidade só existiam duas zonas eleitorais. Em 5 de maio de 1969 assumiu o cargo de desembargador no Tribunal de Justiça, de onde se aposentou em 1974. Da experiência no Judiciário leva até hoje a certeza de ter procurado reconhecer o direito de cada um. “Ser juiz é aplicar com correção a lei”, define. Aos novos magistrados, o conselho do jurista centenário é direto: “Ter conduta compatível com o Poder Judiciário. O juiz é ponto de referência na comarca onde está”. E prefere não destacar nenhum caso que o tenha marcado mais em quase 30 anos de magistratura. “Todos os casos são importantes, do maior ao menor”, ressalta. Wedy garante não ter influenciado filho e neto a seguirem o mesmo caminho. Mas já são três gerações a serviço da Justiça: Délio Spalding de Almeida Wedy é também desembargador aposentado, e Gabriel de Jesus Tedesco Wedy é juiz federal. A aposentadoria do tribunal não parou o magistrado. Garibaldi Wedy seguiu advogando e também dedicou-se aos livros. A primeira obra nasceu após uma visita à cidade de Barros Cassal com a esposa. O ex-prefeito João dos Santos Almeida, pediu a Haydée Spalding Almeida Wedy mais elementos sobre a biografia do pai dela, Kurt Spalding, que havia sido recentemente homenageado dando nome a uma rua da cidade. Foi a deixa para que Wedy reunisse em livro histórias de Spalding, de Soledade e da própria vida. Após O Pequeno Mundo de Soledade, outros livros vieram, sempre com o viés histórico. “A importância dessas obras consiste apenas em trazer à lembrança das pessoas fatos ocorridos no passado”, resume o autor com modéstia. Dentre os fatos recordados, está a fundação da AJURIS, em 1944. Garibaldi Wedy era promotor público na comarca de Santo Ângelo, entretanto lembra que a iniciativa de fundar a AJURIS foi do desembargador João Solon Macedonia Soares, que viria a ser eleito o primeiro presidente da entidade. Já como juiz de Direito, Wedy foi eleito primeiro tesoureiro para a gestão 1963/1964, que teve como presidente o desembargador Cesar Dias Filho. “A AJURIS batalhava pelo espírito associativo e sempre cresceu”, afirma. O espírito de homem da Justiça transparece na mensagem que deixa aos jovens que desejam construir uma trajetória tão longa e próspera. “Posso desejar-lhes uma vida que tenha por limites a moral e a lei”, resume. E o segredo para chegar a um século de vida com tanta vitalidade? “Minha longevidade resulta de muitos fatores, mas posso mencionar estes: genética, modo de viver e ter amigos”, ensina com sua voz calma e pausada o desembargador Garibaldi Almeida Wedy. Homenagens Nesta segunda-feira (21/10), às vésperas de completar 100 anos, Garibaldi Wedy foi homenageado pelo Conselho Executivo da AJURIS. O desembargador recebeu uma placa com os seguintes dizeres: Atingir um centenário de vida com saúde e lucidez, com probidade e dignidade é um privilégio que só os escolhidos alcançam e merecem. O desembargador Garibaldi Wedy, que agora completa 100 anos, é parte integrante da história do Brasil, do Rio Grande do Sul e da sua Magistratura, vivendo enquanto prestava jurisdição exemplar episódios políticos marcantes que mudaram o nosso Estado e o nosso país. Ao desembargador Garibaldi a homenagem dos seus colegas de Magistratura, associados da AJURIS, com votos de que permaneça ainda muito tempo entre nós. Visivelmente emocionado Garibaldi Wedy disse que a homenagem da AJURIS é um troféu. “Tudo quanto eu poderia dizer sobre a AJURIS acho que já disse em alguns dos meus livros. A minha passagem pela AJURIS, que está sempre crescendo, me deu uma enorme satisfação e uma imensa alegria. A palavra gratidão me acompanha e é com gratidão que eu recebo esse troféu. E a palavra gratidão quer dizer que o meu coração é agradecido.” Wedy fez uma saudação especial a Felipe Rauen. “Hoje ele teve a coragem de escrever um artigo no jornal O Sul sobre a minha pessoa. Claro que exagerou, mas apesar disso, o meu profundo agradecimento.” O magistrado Felipe Rauen propôs ao Conselho Deliberativo uma homenagem ao desembargador, que está marcada para o Dia da Justiça, 8 de dezembro, na Sede Campestre. Departamento de Comunicação Imprensa/AJURIS Através de um convite entregue ao Prefeito Cattaneo pelo Sr Délio Wedy, filho do centenário Garibaldi Wedy, no Gabinete, o Prefeito Paulo Ricardo Cattaneo acompanhado da Primeira Dama Gizeli Bordignon esteve participando do aniversário do desembargador Garibaldi Almeida Wedy em Porto Alegre. Fotos: Sandra Mara Trindade
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